“Depressão, temporalidade, sintoma social” é a introdução do livro “O tempo e o cão: A atualidade das depressões”, da psicanalítica Maria Rita Kehl. No decorrer do texto a autora explica e analisa as origens e diferentes aspectos e tipos de depressão, resultando no entendimento de que a depressão é um sintoma social resultante da contemporaneidade.
Kehl discorre e explica o fato de que a depressão não necessariamente seria aplicado apenas em casos individuais, mas também em casos de uma sociedade inteira, chegando a conclusões de motivos aos quais a sociedade brasileira estaria com os sintomas de uma depressão. Citando, por exemplo, o fato do Brasil ter passado por diversos momentos trágicos e traumatizantes ao decorrer dos anos, como na época do Regime Militar (1964-1985), momento no qual a sociedade foi inserida numa ditadura opressiva que capturava, torturava e matava seus cidadãos.
Os sintomas sociais surgiriam devido aos traumas da sociedade que nunca foram expostos e resolvidos de maneira adequada e assim esses sintomas da sociedade acaba influenciando os indivíduos num todo. A falta de discussão, resolução e exposição dos traumas passados resultou nesses sintomas destrutivos. Até os dias de hoje ainda existem diversos resquícios dessas épocas das trevas no Brasil, pois infelizmente ainda nos inserimos numa sociedade com pensamentos extremamente conservadores e estereotipados e com bastante preconceito.
A autora relata sobre um grupo de mulheres que observou compartilharem seus traumas da época da ditadura, algo que foi essencial para maior facilidade no processo de superação de seus traumas. O falar sobre seus traumas colocava o fim à impossibilidade de esquecer o trauma. Por isso o ideal seria o falar sobre os traumas e tempos sombrios da sociedade, pois colocar tudo debaixo do tapete prejudica as chances de superação dessa depressão social.